Os coloridos peixes neon tetra (Paracheirodon innesi) são famosos entre entusiastas do aquarismo porque mudam as cores de sua listra abdominal. Agora cientistas descobriram como essa mudança de cor acontece: pequenas placas dentro de suas escamas se movem como persianas de janela, mudando o modo como essas placas refletem a luz.
Já se sabia que a habilidade do tetra de mudar de cor estava ligada a plaquetas localizadas dentro de células que recobrem a superfície das listras abdominais do peixe. Mas até agora não se sabia como a mudança de cor ocorria.
O peixe tetra neon muda de cor devido a mudança em placas dentro de escamas abdominais.
Para elucidar o mistério, Shinya Yoshioka e sua equipe, da Universidade de Osaka, no Japão, montou um microscópio que mede o ângulo e a cor das placas simultaneamente.
Baseado no modo como polvos usam a orientação de plaquetas similares para se camuflar, Yoshioka imaginou que as plaquetas do peixe se moveriam como persianas. "Quando as placas das persiana são dobradas, a luz é refletida em um ângulo diferente", explica.
O microscópio de Yoshioka emite uma luz forte sobre as plaquetas e registra onde ela é refletida, determinando assim seu ângulo. A cor é determinada por um espectrômetro, que mede a força e tipo do comprimento de onda refletido das plaquetas.
Os cientistas sabiam que o elemento químico potássio fazem as escamas do peixe mudar de azul para amarelo. Então Yoshioka colocou células do abdômen do neon tetra sob o microscópio e adicionaram potássio. As cores começaram a mudar ao mesmo tempo em que os ângulos da plaquetas, confirmando a "teoria das persianas" de Yoshioka.
Quando o abdômen aparecia em azul, as placas estavam a 12 graus em relação à base das células refletoras. Quando mudaram para amarelo, elas se moveram para 16 graus. "Uma pequena mudança no ângulo pode causar uma grande mudança na cor", disse Yoshioka.
O modelo de persiana envolve um movimento mecânico simples e poderia ser usado no desenho de produtos que mudam de cor, sugere Yoshioka.
Ainda não se sabe, porém, como o peixe move as plaquetas. Justin Marshall, um ecologista da Universidade de Queensland, em Brisbane (Austrália), disse que é possível que o peixe controle o ângulo das plaquetas por meio de redes neurais acionadas quando surgem ameaças no ambiente.
O potássio é um mensageiro importante em redes neurais. Segundo Marshall, seria então possível que o elemento desencadeasse uma resposta neural que puxaria microfilamentos ligados às plaquetas.
O estudo foi publicado no periódico "Journal of Royal Society Interface".
Fonte: NEW SCIENTIST - 18/06/2010.