sexta-feira, 6 de maio de 2011

Doses de trabalho voluntário

POR EULINA OLIVEIRA
FOTOS ANDRÉ MOURA
Há muito tempo que o trabalho voluntário já não é mais associado à caridade. Nas últimas décadas, este tipo de atividade conquistou muito mais seriedade e também notoriedade.

Acredite, esta é uma boa receita para cuidar da saúde. Pesquisas confirmam que ajudar o próximo, além de proporcionar benefícios para a alma, reduz o estresse, combate a insônia, a depressão, entre outros males

Até mesmo grandes empresas privadas têm estimulado seus funcionários, de várias maneiras, a dedicar-se à prática do altruísmo e da solidariedade. E, segundo um levantamento da Organização das Nações Unidas (ONU), após o ano Internacional do Voluntariado (em 2001), o número de voluntários no Brasil passou dos 22 milhões para nada menos do que 42 milhões. Um crescimento para lá de impressionante e digno de comemoração.
nome: Olinete Alves Gomes
idade: 57 anos
atividade: trabalha na brinquedoteca da APAE
nome: Nidelce Bulgueroni
idade: 60 anos
atividade: ajuda na cozinha da APAE (SP)
nome: Célia Aparecida Borsari Costa
idade: 43 anos
atividade: coordenadora da AACD na Moóca (SP)


SEGUNDO A ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS (ONU), O VOLUNTÁRIO É ALGUÉM QUE DEDICA PARTE DE SEU TEMPO A ATIVIDADES DE BEM-ESTAR SOCIAL, SEM GANHAR REMUNERAÇÃO ALGUMA

E o que será que tem motivado essas pessoas? O livro The Healing Power of Doing Good - The Health and Spiritual Benefits of Helping Others (O poder curativo de fazer o bem - Os benefícios à saúde e espirituais de ajudar os outros), escrito pelo americano Allan Luks, ex-diretor do Instituto para o Avanço da Saúde de Nova York, dá uma pista.

Segundo o autor, este tipo de tarefa faz uma pessoa se sentir bem espiritualmente e ainda contribui para melhorar a sua saúde física, mental e emocional. Aliás, o autor reuniu diversos estudos sobre os benefícios proporcionados pelo altruísmo do trabalho voluntário e identificou uma clara relação de causa e efeito entre ajudar os outros e ter boa saúde.

Essas pesquisas concluíram que os participantes tiveram um aumento da sensação de bem-estar após realizar ações filantrópicas e, conseqüentemente, apresentaram uma redução em seus níveis de estresse e maior equilíbrio emocional.

Mas, talvez, o resultado mais curioso foi o relato dos entrevistados, após iniciar esses trabalhos, sobre a melhora e até desaparecimento de problemas como insônia, úlceras, dores de cabeça e nas costas, depressão, gripes e resfriados.

E as revelações não param por aí. Outras pesquisas, conduzidas pelas Universidades de Michigan e Cornell, também nos EUA, sugerem que indivíduos que vêm dedicando um longo período ao voluntariado vivem mais do que aqueles que não participam de nenhuma ação voltada a ajudar outras pessoas. A explicação para tal longevidade seria a melhoria geral da qualidade de vida, fruto da interação social que o comprometimento regular com atividades sociais propicia.

Pesquisadores também constataram, ao acompanhar voluntárias do sexo feminino, durante 30 anos, que elas têm uma capacidade maior de manter suas habilidades e aptidões físicas e mentais, natas ou desenvolvidas, ao longo da vida. "O altruísmo faz com que a pessoa se sinta realizada, traz bem-estar, especialmente quando ela pode ver os resultados dessa ação.

Além disso, trata-se de algo que se está fazendo por iniciativa própria, não por obrigação, e por isso é prazeroso", explica o psicoterapeuta Geraldo Possendoro, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).

Acredite, esta é uma boa receita para cuidar da saúde. Pesquisas confirmam que ajudar o próximo, além de proporcionar benefícios para a alma, reduz o estresse, combate a insônia, a depressão, entre outros males


" PARADOXALMENTE, EM UM MUNDO VOLTADO CADA VEZ MAIS PARA O INDIVIDUALISMO, COM RELAÇÕES FRIAS E VIRTUAIS, AS PESSOAS ESTÃO BUSCANDO SATISFAÇÃO NO TRABALHO VOLUNTÁRIO"
GERALDO POSSENDORO, PSICOTERAPEUTA DA UNIFESP

Estimulando o cérebro
A ciência pode esclarecer alguns pontos relacionados aos benefícios físicos do voluntariado.

Resultados de uma pesquisa realizada pelo neurocientista brasileiro Jorge Moll, nos Estados Unidos, mostra que o simples ato de pensar em fazer o bem já ativa o sistema de recompensa do cérebro e libera uma carga do neurotransmissor dopamina, substância envolvida na sensação de bem-estar. Outra região acionada nesse processo é o córtex subgenual, ligada à formação de laços afetivos de longo prazo (como namoro e amizade).

E tem mais. O pesquisador entregou US$ 128 aos 19 voluntários e pediu que decidissem o que fazer com a quantia: embolsá-la ou doá-la a alguma instituição de caridade. Enquanto pensavam, foram submetidos ao exame de ressonância magnética que revelou que aqueles que mantiveram o dinheiro para si não tiveram ativado o sistema de recompensa do cérebro.

O CAMINHO DAS PEDRAS
Na era da Internet, nunca foi tão fácil pesquisar instituições sem fins lucrativos que necessitam de ajuda. Você pode começar a busca nos sites dedicados ao assunto, como o Portal do Voluntário (www.portaldovoluntario.org.br), Seja um Voluntário (www.voluntarios.com.br) e Faça Parte (www.facaparte.org.br). Por outro lado, exercer o trabalho voluntário exige dedicação e responsabilidade.

Não é só porque você está dedicando parte de seu tempo e talento sem cobrar nada por isso que deixará de ter um comprometimento sério com a instituição. Até porque as pessoas que estão lá estarão sempre contando com você. Por isso, geralmente, as entidades fazem uma triagem.

Os interessados passam por uma entrevista que identifica se o perfil se encaixa à tarefa a ser exercida. Para ajudar você, anote estas dicas:
Qualquer pessoa pode ser voluntária, independentemente do grau de escolaridade ou idade, mas boa vontade e responsabilidade são qualidades essenciais.

Dê preferência a entidades perto da sua casa ou trabalho, mas antes verifique se a área de atuação está de acordo com a sua intenção, e faça uma visita.

Conheça o funcionamento e as necessidades da entidade. Se não der certo com a primeira, não desista - tente outra.

Seja humilde. O fato de você estar ajudando os outros não significa que seu trabalho não possa ser criticado. Pode não ser remunerado, mas o trabalho é sério. O grau de profissionalismo exigido nessas entidades é o mesmo de uma empresa.

Não desanime se nem todo mundo vibrar e bater palmas pela sua dedicação. Afinal, a quem você espera agradar?


FONTE: WWW.VOLUNTARIOS.COM.BR, em 05/05/2011.