terça-feira, 17 de maio de 2011

P.A.R.T.Y - Prevenir traumas relacionados a risco e álcool na juventude.




A palavra “party”, traduzida para o português, significa “festa”.

Mas o Hospital de Clínicas da Unicamp não promoveu exatamente uma balada quando recebeu 45 alunos da Escola Estadual "Julio Mesquita" nesta terça-feira, dia 17/05/2011.

Era dia de P.A.R.T.Y (“Prevent Alcohol and Risk-Related Trauma in Youth” - “Prevenir traumas relacionados a risco e álcool na juventude”).

Os adolescentes visitaram UTIs (Unidades de Terapia Intensiva) e enfermarias de ortopedia e trauma do hospital. Puderam conversar com pacientes vítimas de acidentes (traumas) de trânsito. Assistiram, também, a palestras educativas dos apoiadores do projeto.

Desenvolvido no Canadá, o programa é realizado em Campinas pelo HC da Unicamp, apoiado por Empresa Municipal de Desenvolvimento de Campinas (EMDEC), Centro de Referência em Reabilitação da Prefeitura, Corpo de Bombeiros, Polícia Militar (PM), Secretaria Municipal de Saúde, por meio do Núcleo de Prevenção de Violências e Acidentes, e Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu).

“Trauma é uma doença e, muitas vezes, pode ser evitada”, define o cirurgião Gustavo Fraga, 42, coordenador da disciplina Cirurgia do Trauma da Unicamp. Por isso, a Comissão de Prevenção e Educação da Liga do Trauma (CoPELT), criada por alunos de Medicina da universidade, investe em ações para diminuir tais ocorrências.

A Liga do Trauma é uma associação de universitários que desenvolve atividades extra-curriculares de aprendizado, capacitação e extensão junto à disciplina Cirurgia do Trauma.

“A prevenção é mais barata e mais efetiva”, constata o cirurgião do trauma Rodrigo Barros de Carvalho, 37, um dos coordenadores do P.A.R.T.Y. A noção de acidente enquanto acaso ou destino traz, segundo ele, “consequências gravíssimas”.

Ainda de acordo com o cirurgião, aprender a fazer escolhas seguras e evitar fatores de risco seria determinante para o futuro do público-alvo do P.A.R.T.Y, cuja faixa etária sugere ilusões de inviolabilidade, de “superpoderes”. O programa atinge jovens do 2º e 3º anos do Ensino Médio.

“Quando eles passam por aqui, sentem o cheiro do hospital”, destaca Rodrigo. Ele usa a palavra no sentido de choque de realidade, capaz de fomentar e incentivar atitudes conscientes no trânsito.

Transformação

Faz 16 anos que Washington Conceição Moura, 34, fraturou o pescoço durante a manutenção de uma piscina. A tetraplegia o transformou em bicampeão brasileiro de rúgbi adaptado. Hoje orientador do Centro de Reabilitação de Sousas, ele debateu sua história com os estudantes. Seu trauma é semelhante aos sofridos nas ruas.

“Na verdade, eu não me revoltei. Fiquei cinco anos em fase de luto, que é o tempo que você leva para cair a ficha”, recorda Washington. Após o acidente, voltou a estudar. Atua em ONGs (Organizações Não-Governamentais) e trabalha como orientador para temas de acessibilidade.

“O impacto do P.A.R.T.Y foi grande”, avalia James, 16, do 2º ano. “Baseado em tudo o que eu vi hoje, vou ser mais prudente quando dirigir”, promete.

O silêncio de Mariana, 16, do 3º ano, ecoa a assimilação da experiência. “Nossa... Ver esse pessoal nos quartos... Hoje, aprendemos sobre a importância da vida!”.

Além das palestras e do tour pelas enfermarias, houve dinâmicas instrutivas e bem-humoradas. Uma bola simulou um cérebro; com uma tesoura, foi cortada a fita que simbolizava a medula espinhal. Lesões medulares, decorrentes de fraturas da coluna, resultam em paraplegia e tetraplegia.

Atrás de um carro de papelão, adolescentes encenaram o perigo da combinação entre álcool e trânsito. “Em países onde a exigência do cumprimento da Lei Seca é mais rigorosa, a redução das taxas de óbito é mais relevante”, analisa o cirurgião Gustavo Fraga.

Mas antes do bafômetro, o “desconfiômetro”. “As regras vieram para trazer qualidade de vida”, ressalta Maria Cristina Ferrari Maciel, 57, analista de Educação da Mobilidade da EMDEC. “Neste sentido, crianças e jovens são os grandes multiplicadores das campanhas educativas”.

A EMDEC realizou uma parceria com o Sindicato das Empresas de Transportes de Passageiros por Fretamento de Campinas e Região (Sinfrecar) para levar os alunos das escolas até o HC. Os alunos da EE  "Julio Mesquita" foram deslocados por veículos das empresas Princesa D'Oeste e Zanca.

Veja algumas fotos do evento: