domingo, 20 de junho de 2010

"Persianas" ajudam a explicar mudança de cor em peixe de aquário

Os coloridos peixes neon tetra (Paracheirodon innesi) são famosos entre entusiastas do aquarismo porque mudam as cores de sua listra abdominal. Agora cientistas descobriram como essa mudança de cor acontece: pequenas placas dentro de suas escamas se movem como persianas de janela, mudando o modo como essas placas refletem a luz.

Já se sabia que a habilidade do tetra de mudar de cor estava ligada a plaquetas localizadas dentro de células que recobrem a superfície das listras abdominais do peixe. Mas até agora não se sabia como a mudança de cor ocorria.


O peixe tetra neon muda de cor devido a mudança em placas dentro de escamas abdominais.

Para elucidar o mistério, Shinya Yoshioka e sua equipe, da Universidade de Osaka, no Japão, montou um microscópio que mede o ângulo e a cor das placas simultaneamente.

Baseado no modo como polvos usam a orientação de plaquetas similares para se camuflar, Yoshioka imaginou que as plaquetas do peixe se moveriam como persianas. "Quando as placas das persiana são dobradas, a luz é refletida em um ângulo diferente", explica.

O microscópio de Yoshioka emite uma luz forte sobre as plaquetas e registra onde ela é refletida, determinando assim seu ângulo. A cor é determinada por um espectrômetro, que mede a força e tipo do comprimento de onda refletido das plaquetas.

Os cientistas sabiam que o elemento químico potássio fazem as escamas do peixe mudar de azul para amarelo. Então Yoshioka colocou células do abdômen do neon tetra sob o microscópio e adicionaram potássio. As cores começaram a mudar ao mesmo tempo em que os ângulos da plaquetas, confirmando a "teoria das persianas" de Yoshioka.

Quando o abdômen aparecia em azul, as placas estavam a 12 graus em relação à base das células refletoras. Quando mudaram para amarelo, elas se moveram para 16 graus. "Uma pequena mudança no ângulo pode causar uma grande mudança na cor", disse Yoshioka.

O modelo de persiana envolve um movimento mecânico simples e poderia ser usado no desenho de produtos que mudam de cor, sugere Yoshioka.

Ainda não se sabe, porém, como o peixe move as plaquetas. Justin Marshall, um ecologista da Universidade de Queensland, em Brisbane (Austrália), disse que é possível que o peixe controle o ângulo das plaquetas por meio de redes neurais acionadas quando surgem ameaças no ambiente.

O potássio é um mensageiro importante em redes neurais. Segundo Marshall, seria então possível que o elemento desencadeasse uma resposta neural que puxaria microfilamentos ligados às plaquetas.

O estudo foi publicado no periódico "Journal of Royal Society Interface".

Fonte: NEW SCIENTIST - 18/06/2010.