quinta-feira, 9 de junho de 2011

Enem é uma avaliação, não um vestibular, diz presidente do Inep

  • Malvina Tuttman, presidente do Inep, espera 6 milhões de inscritos no Enem 2011
Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) é o assunto da vez no Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira).

Pode ter até quatro edições por ano? Sim. Os alunos vão poder pedir revisão da nota da prova? Não. Lápis e borracha serão permitidos? Não, só caneta. Quando o Enem será feito por computador? Ainda não se sabe.

E por que tanto interesse? Porque a prova se tornou instrumento de ingresso nas universidades federais. Apesar de as perguntas serem muitas e o interesse, geral, a presidente do órgão, Malvina Tuttman, faz questão de lembrar que o Enem não é um vestibular: "Ele continua guardando sua qualidade de avaliação do ensino médio", afirma.

"Por sua alta qualificação e precisão [o Enem] também pode ser usado para selecionar [ingressantes ao ensino superior]", defende Malvina que até quatro meses atrás era reitora da Unirio (Universidade Federal do Rio de Janeiro). "Para o Inep, não é [um vestibular]." Desde que assumiu o cargo, ela tem batido na tecla de que o Enem é uma prova de dignóstico e que o Inep é responsável por muitas outras avaliações.

Mas não tem jeito: o Enem é que toma a maior parte do tempo de Malvina na mídia -- não se vê a pesquisadora dando entrevista sobre Prova Brasil (que avalia o ensino fundamental) ou Enade (prova do ensino superior), por exemplo.

Desde que passou a fazer as vezes de vestibular em 2009, o Enem ganhou outro peso. Para se ter uma ideia: em 2011, cerca de 83 mil vagas em instituições públicas foram disputadas diretamente com base na pontuação da prova por meio do Sisu (Sistema de Seleção Unificada).

A Fuvest, que seleciona para a pretigiada USP (Universidade de São Paulo) ofereceu 10.752 vagas para ingresso neste ano. Junto com a nova função -- por coincidência ou não -- também apareceram mais problemas.

Em 2009, a prova foi furtada de dentro da gráfica em que estava sendo impressa. No ano passado, mais um erro gráfico e uma troca no cabeçalho dos gabaritos provocaram tumulto no processo.

Logística

Diante do desafio de tocar esse processo -- que deve ter cerca de 6 milhões de inscritos neste ano --, a professora Malvina, logo que assumiu o cargo, convocou os funcionários do Inep para uma ampla discussão do papel da entidade e para um decisão em conjunto sobre melhorias no processo para este ano.

O resultado foi a criação de um novo setor dentro da instituição: a Unidade de Operação Logística, formada por servidores que organiza o processo do Enem e todas as outras avaliações.

Questionada se essa nova seção não teria sido criada tardiamente -- afinal, os setores que estão sob sua responsabilidade são gráfica, distruibuição e aplicação, justamente os gargalos que trouxeram problemas nas duas últimas edições do Enem, a professora responde: "o Inep já fazia esse acompanhamento e controle, mas neste momento [para 2011]  consideramos que seria fundamental [ter um grupo de profissionais voltados apenas para a logística do processo]".

Com seu vocabulário sofisticado, mas sem perder o didatismo de professora, ela completa: "A temporalidade mostrou que seria importante criar essa unidade".

Além dessa novidade na estrutura interna do Inep, a operação do Enem 2011 também conta com dois apoios externos em sua logística: o Inmetro, que vai certificar cada etapa do processo, e uma empresa que está prestando consultoria de gestão de risco, a Módulo.

O contrato com a Módulo vai custar R$ 5 milhões -- no ano passado, o contrato para distribuição das provas com os Correios ficou em R$ 18 milhões.

Vestibular versus avaliação

Com todo esse imbróglio de logística, esse caráter avaliativo não fica para trás? A professora Malvina diz que não. E cita alguns exemplos de como alguns dados trazidos pelo exame podem ajudar na tecitura de políticas públicas para o ensino médio.

O Enem recebeu mais de 430 mil inscrições de interessados com mais de 30 anos até 11 horas da quinta-feira (2). "Trabalhar com esses dados nos indicam quantos estão fora do sistema e, então, teremos que investigar: por quê? que políticas podem ser feitas [para reverter esse quadro]?", explica a presidente do Inep.

Segundo Malvina, esses dados e outros, como análise de erros e acertos das provas, também podem dar pistas sobre falhas e boas práticas de aprendizagem. "São coisas dessa natureza que cabe ao Inep fazer", afirma.

Fonte: Karina Yamamoto - Ed. UOL Educação em 04/06/2011.