quinta-feira, 19 de abril de 2012

Répteis e suas características


Por Carlos Roberto de Lana

Se houvesse um campeonato de popularidade entre os grupos animais, dificilmente os répteis seriam campeões. Nós, os mamíferos, temos uma certa aversão natural àquelas criaturas rastejantes e escamosas. Prova disso é o nosso relacionamento nada cordial com as serpentes, contra as quais muitas espécies são atavicamente prevenidas. Sem falar nas muitas mitologias que as associam ao mal em estado puro.


Os répteis também são freqüentemente apresentados como criaturas pouco evoluídas, com organismos e estruturas físicas inferiores às dos animais de sangue quente (mamíferos e aves) e dotados de cérebros pequenos e mal formados que os tornam ridiculamente estúpidos. Mas basta olharmos para aqueles animais com mais atenção e menos preconceito e descobriremos neles criaturas notáveis.

Répteis são criaturas respeitáveis


Afinal, se os humanos estão entre os caçulas da família de seres vivos do planeta, contando seu tempo na casa da centena de milhar de anos, os répteis já se banhavam ao sol antes de os grandes dinossauros dominarem o mundo e continuaram por aqui, com pouquíssimas mudanças, depois que eles se foram. Ou seja, os répteis protagonizaram uma história de sucesso evolutivo por centenas de milhões de anos, o que, por si só, já os faz merecer algum respeito.

Se as tartarugas e crocodilos de hoje são essencialmente os mesmos que dividiam o período Jurássico com os dinossauros é porque combinaram características vitais para a sobrevivência a longo prazo das espécies: grande adaptação ao seu ambiente e às mudanças, mesmo bruscas, que este ambiente sofre ao longo do tempo.

Ectotermia vs. endotermia

Os répteis são ectotérmicos, isto é, dependem do calor do ambiente externo para regular a sua temperatura corpórea, daí aquelas cenas conhecidas dos jacarés tomando banho de sol à beira dos rios do pantanal.

Ao contrário dos mamíferos e aves que são endotérmicos, ou seja, que utilizam o calor interno para manter a temperatura corpórea, as cobras, lagartos, tartarugas, crocodilos e demais parentes não possuem temperatura corporal constante.

É por conta disto que ursos, focas e pingüins podem suportar o frio das regiões polares onde nenhum réptil sobreviveria, uma vez que o metabolismo dos mamíferos e aves produz o calor necessário para mantê-los aquecidos.

A primeira vista, este seria um dos sinais da inferioridade biológica dos répteis, mas quando consideramos que um crocodilo adulto, após um período de alimentação abundante, pode passar até dois anos sem comer, vemos que a fisiologia deles não é tão fraca assim.

Harriet e Darwin


Como os répteis regulam sua temperatura corporal ao sol, não precisam consumir energia derivada de alimentos para manter o funcionamento de seus organismos. Sendo a luz solar gratuita e abundante, esta solução evolutiva mostrou-se muito eficiente.

E ainda deve-se levar em consideração o quesito da longevidade. Se os humanos com toda sua medicina e ciência alcançam em média períodos de vida em torno de 70 a 80 anos, é de causar inveja o fato de Harriet, uma tartaruga das Ilhas Galápagos que foi estudada por Charles Darwin, ter falecido recentemente na tenra idade de 176 anos.

Nem todos os répteis têm este tempo todo de vida disponível, mas crocodilos e outras espécies podem alcançar idades avançadas.

Existem quatro ordens de répteis:

  • Ordem Crocodilia - crocodilos, jacarés e gavial: 23 espécies

  • Ordem Rhynchocephalia - tuataras da Nova Zelândia: 2 espécies

  • Ordem Squamata - lagartos, camaleão e cobras: aproximadamente 7.600 espécies

  • Ordem Testudinata - tartarugas: aproximadamente 300 espécies


  • Os répteis estão sempre por aí, seja a tartaruguinha do aquário ou a lagartixa que sobe pela parede do terraço, cada um deles com sua função no equilíbrio ecológico. Mesmo as tão mal faladas serpentes são indispensáveis, uma vez que a população de roedores silvestres aumentaria sem controle sem a ação predadora das cobras.

    Ovíparos ou ovovivíparos

    Os répteis têm respiração pulmonar e um coração de três cavidades no qual o sangue arterial e o venoso se mistura, ao contrário do que acontece nos mamíferos e aves onde o sangue das artérias e das veias segue caminhos próprios pelo coração sem se misturar.

     

    A reprodução dos répteis é sexuada, ovípara quando as fêmeas põem ovos ou ovovivípara, quando os filhotes se desenvolvem em ovos dentro do corpo da mãe.

    O comportamento dos répteis com os filhotes varia conforme a espécie, desde as tartarugas marinhas que enterram seus ovos na areia e simplesmente os abandonam, até os crocodilos e pítons, que defendem ferozmente seus ninhos após o nascimento dos filhotes.

    As mamães crocodilo realizam um cuidadoso ritual de transportar os filhotes recém-nascidos cuidadosamente na boca até um trecho seguro do rio ou lago onde eles possam encontrar alimento e se desenvolver. Na maioria das vezes não adianta muito, pois a grande maioria dos filhotes de répteis não atinge a idade adulta.

    Longevidade e estupidez


    Os répteis são assim, capazes de realizar as proezas de sobreviver a extinções em massa, cumprir períodos de vida que atravessam séculos, passar anos sem alimento e ainda cuidar das crias com atenção e cuidado. Nada mal para seres tidos como pouco evoluídos.

    E aquela história de os répteis serem estúpidos?

    Bem, os cérebros e sistemas nervosos dos répteis de fato são mais simples, primitivos e proporcionalmente menores que o dos mamíferos. Mas é difícil crer que Harriet aceitasse renunciar aos seus quase duzentos anos de vida em troca de uma caixa craniana um pouco mais volumosa.