domingo, 30 de maio de 2010

CRÍTICA - FÚRIA DE TITÃS

Filme não respeita o original e nem a mitologia
Por Alvaro Domingues - 22/05/2010

Sinopse: Perseu, ao ver seus pais adotivos morrerem em consequência de um ataque de Hades, revolta-se contra os deuses. Na verdade ele é filho de Zeus e embarca numa aventura para destruir Kraken, um monstro libertado por Hades para destruir ou Argos ou sua princesa, Andrômeda, se ela fosse lhe dada em sacrifício.

O filme é retirado da mitologia grega, explorando o mito de Perseu e sua luta contra a Medusa. Já na sinopse se percebe os problemas. Em primeiro lugar, desde quando Kraken é da mitologia grega? Que eu saiba, ele é da mitologia nórdica... A razão para a escolha é que ele seria mais assustador que o monstro da lenda original, Cetus, um gigantesco peixe (cetus deu origem à palavra “cetáceo”, classe de animais da qual faz parte a baleia).


Outro problema está na escolha de Hades como vilão. Ele foi escolhido porque simplesmente é o senhor do Inferno, fazendo-o se tornar muito próximo da figura de Satã, o príncipe das trevas da mitologia judaico-cristã. Isto o afasta da versão original de 1981 (onde o vilão é Calibus, filho de Cassiopéia) e do mito grego, onde Hades é seu aliado, dando-lhe uma das armas fundamentais para seu sucesso (um capacete que o torna invisível). Aliás, é lamentável também tanto a ausência destas armas como da sua principal aliada, Atenas. O desprezo pela mitologia, como pelo filme original, é bem caracterizado quando Perseu na versão de 2010 encontra a coruja metálica (fundamental no longa de 1981) que é simplesmente jogada fora.


Pode-se argumentar que não precisamos ser fiéis ao mito para fazer um bom filme. Concordo. Se o resultado for bom. Neste sentido, um quase-acerto do longa foi trocar a motivação de Perseu – que no mito original e no filme de 1981 faz tudo simplesmente pelo espírito de aventura ou por sua paixão pelas mulheres (sua mãe, Atenas e Andrômeda). Na nova versão ele faz tudo em nome de uma revolta contra os deuses, de quem os homens estão fartos de serem manipulados (e estão igualmente revoltados, dispostos a lutar contra isso).

Por que um quase acerto? Porque Perseu a partir de um certo ponto passa a ser ajudado secretamente por Zeus, e, após ter concluído sua missão, aceita sua origem divina, numa clara tentativa de dar novamente uma conotação cristã à história, tangenciando a história de Perseu à de Cristo, de uma maneira muito artificial.

Outra presença espúria, se bem que bem-vinda, pois humaniza um pouco o herói, é Io, uma mortal tornada imortal pelos caprichos dos deuses, que acompanha o grupo amenizando o cenário agressivo da jornada.

Como aspectos positivos, pode-se destacar a aventura em si e as lutas contra os monstros: Calibus (que na versão samba-do-crioulo-doido de 2010 é Acrisio, o esposo traído da mãe de Perseu), os escorpiões gigantes, a Medusa e o Kraken.

FÚRIA DE TITÃS
Fúria de Titãs (Clash of Titans)
Direção: Louis Leterrier
Roteiro: Travis Beacham, Phil Hay
Elenco: Sam Worthington, Pete Postlethwaite, Mads Mikkelsen, Gemma Arterton, Alexa Davalos, Ralph Fiennes, Liam Neeson
Duração: 106 minutos
País: EUA, Reino Unido